Aparentemente, a Doutrina Social da Igreja e o liberalismo econômico não são conciliáveis: Trechos da carta encíclica Quadragesimo Anno: "Ora a livre concorrência, ainda que dentro de certos limites é justa e vantajosa, não pode de modo nenhum servir de norma reguladora à vida económica. Aí estão a comprová-lo os factos desde que se puseram em prática as teorias de espírito individualista. Urge por tanto sujeitar e subordinar de novo a economia a um princípio directivo, que seja seguro e eficaz. A prepotência económica, que sucedeu à livre concorrência não o pode ser; tanto mais que, indómita e violenta por natureza, precisa, para ser útil a humanidade, de ser energicamente enfreada e governada com prudência; ora não pode enfrear-se nem governar-se a si mesma. Força é portanto recorrer a princípios mais nobres e elevados : à justiça e caridade sociais." "Este despotismo torna-se intolerável naqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro, são também senhores absolutos do crédito e por isso dispõem do sangue de que vive toda a economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que não pode respirar sem sua licença. Este acumular de poderio e recursos, nota característica da economia actual, é consequência lógica da concorrência desenfreada, à qual só podem sobreviver os mais fortes, isto é, ordinariamente os mais violentos competidores e que menos sofrem de escrúpulos de consciência." "[...] a livre concorrência matou-se a si própria; à liberdade do mercado sucedeu o predomínio económico; à avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio; toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz." "Para evitar o escolho quer do individualismo quer do socialismo, ter-se-á em conta o duplo carácter individual e social tanto do capital ou propriedade, como do trabalho. As relações mútuas de um com o outro devem ser reguladas segundo as leis de uma rigorosa justiça comutativa, apoiada na caridade cristã. A livre concorrência contida dentro de justos e razoáveis limites e mais ainda o poderio económico devem estar efectivamente sujeitos à autoridade pública, em tudo o que é da sua alçada" Trecho da carta encíclica Quanta Cura: "De fato, Veneráveis ​​Irmãos, vocês sabem muito bem que neste tempo não são poucos os que, aplicando à sociedade civil o princípio ímpio e absurdo do naturalismo (como eles o chamam), ousam ensinar que " a melhor natureza da sociedade pública e do progresso civil exigem que a sociedade humana seja constituída e governada sem qualquer consideração pela religião, como se ela não existisse ou, pelo menos, sem fazer qualquer distinção entre religiões verdadeiras e falsas ". Contrariamente à doutrina das Sagradas Letras da Igreja e dos Santos Padres, eles não hesitam em afirmar que " a melhor condição da sociedade é aquela em que ao Império não é reconhecido o dever de reprimir com penas estabelecidas os violadores da religião católica, exceto na medida em que a paz pública o exigir ". Com esta ideia absolutamente falsa de governo social, eles não temem defender a opinião, extremamente prejudicial à Igreja Católica e à salvação das almas, que Nosso Predecessor Gregório XVI, de venerada memória, chamou de delírio [Eadem Encycl. Mirari ], ou seja, que " a liberdade de consciência e de culto é um direito próprio de todo homem, que deve ser proclamado e estabelecido por lei em toda sociedade bem organizada, e que os cidadãos têm direito à liberdade completa, que não deve ser restringida por nenhuma autoridade eclesiástica ou civil, em virtude da qual podem manifestar e declarar aberta e publicamente suas ideias, quaisquer que sejam, seja por meio da fala, da impressão ou de qualquer outra forma "." Trechos do Syllabus Errorum: "X - Erros que se referem ao liberalismo atual (proposições condenadas) LXXVII. Em nossa época, não é mais apropriado que a religião católica seja considerada a única religião do Estado, excluindo todos os outros cultos, quaisquer que sejam. [...] LXXIX. É absolutamente falso que a liberdade civil de qualquer religião, e similarmente a ampla faculdade concedida a todos de manifestar qualquer opinião e qualquer pensamento aberta e publicamente, levem à corrupção mais fácil dos costumes e das mentes do povo e à disseminação da praga do indiferentismo." Trecho da carta encíclica Rerum Novarum: "Sempre que o interesse geral ou qualquer classe particular sofre, ou é ameaçado por dano que não pode de outra forma ser atendido ou evitado, a autoridade pública deve intervir para lidar com isso"

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Caridade por lei civil? Isso é Teocracia, ou não? Misturar religião com estado? Lembre-se que em Israel o líder religioso não tinha o poder de governar e o rei não tinha o poder religioso. A economia livre é uma bênção. Há um trecho bíblico que abençoa o vendedor e diz que aquele que retém a venda (entendo como a burocracia que entrava o livre mercado) é amaldiçoado. Em Israel o livre mercado da demanda e oferta era respeitado. Em época de fome, até esterco de aves e cortes de alimentos imundos eram vendidos por alto preço por conta da demanda alta e pouca oferta. Até a profecia do terceiro selo do Apocalipse previa a inflação de tempos de escassez em que um dia de salário só daria para comprar uma medida de trigo ou três de cevada, embora isso seja encarado como uma profecia espiritual e não literal, o respeito pela livre demanda do mercado é ilustrado. Outro exemplo é a venda de cereais no Egito por José, filho de Jacó. No primeiro ano era possível comprar o alimento do ano todo com um saco de moedas, no sétimo, eles venderam todas as propriedades por um ano de alimentação e queriam até se vender como escravos. Isso foi exagerado, exploratório e cruel ou foi bem quisto por Deus? Sobre a administração de José do começo ao fim do seu governo no Egito ele é mencionado como fiel e fazendo a vontade de Deus. A liberdade para empreender tem limetes éticos óbvios, claro. Nada de pesos e balanças enganosas, mentiras para vender, etc. Essa questão de regular politicamente mesmo com intenções boas perverte tudo. Você acha justo alguém cobrar o ar pra respirar? Ora, o ar é gratuito e parece absurdo conceber alguém que cobre por isso, pensando assim parece que quem fizer isso é um desalmado, mas a venda de oxigênio para fins médico hospitalares e para mergulho é um nicho de negócio importante e que precisa de recursos para manter a produção e ajudar pessoas que querem recurperar-se de casos de insuficiência respiratória ou fazer expedições profundas na água com segurança e vale cada centavo. Caridade é feita como Jesus fez. Sua entrega foi voluntária vindo de um coração solidário e temente a Deus que não sofria imposição, senão da própria consciência e amor que sente por todo pecador que precisa de seu sangue. Deus também quer serviço feito com amor e boa vontade. Caridade feita por imposição de lei por força estatal não tem nada de caridade, pois amor não se impõe. Você prefere comer um alimento feito por amor por alguém disposto a fazer de bom grado ou por alguém que faz a contra gosto, de má vontade, por imposição? Nem Deus intervém na liberdade (os calvinistas não vão concordar, óbvio), mas tanto católicos como protestantes sinergistas não aceitam supressão da sagrada liberdade e o trabalho deve ser feito assim, se alguém abusar da liberdade, Deus fará justiça e, ainda na Terra, a livre escolha e concorrência se encarregará de punir quem abusa dela com ostracismo, perda de clientes até falência ou prisão, se se aplicar no âmbito civil ou criminal.
A Quadragesimo Anno é um pouco estranha. Preciso refletir mais. De qualquer forma, a Igreja não é contra a economia de mercado. Na Rerum Novarum: "De facto, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho empreendido por quem exerce uma arte lucrativa, o fim imediato visado pelo trabalhador, é conquistar um bem que possuirá como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe à disposição de outrem as suas forças e a sua indústria, não é, evidentemente, por outro motivo senão para conseguir com que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito e rigoroso para usar dele como entender. Portanto, se, reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se, para assegurar a sua conservação, as emprega, por exemplo, num campo, torna-se evidente que esse campo não é outra coisa senão o salário transformado" Outro trecho da mesma: "Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem, inclusivamente, a acordar na cifra do salário" "Uma vez livremente aceite o salário por uma e outra parte, assim se raciocina, o patrão cumpre todos os seus compromissos desde que o pague e não é obrigado a mais nada" Bom, preciso pensar melhor no que Pio XI queria dizer na Quadragesimo anno, mas parece que queria enfatizar a necessidade de limites éticos e sociais, sem abolir a liberdade econômica.
Conforme vamos estudando a DSI da Igreja vemos considerações ambivalentes ao capitalismo e ao socialismo. É normal ficar um pouco confuso porque a DSI da Igreja não subscreve integralmente nenhuma teoria econômica ou social. A teoria social e econômica que mais se aproxima é o distributivismo. Procure ver alguns artigos comentando as ideias do Chesterton. Tem um livro do padre Félix Serdá chamado "liberalismo é pecado" que ele critica o liberalismo clássico como o de Adam Smith. Pelo que entendi, qualquer sistema ou política que prive os cidadãos de direitos naturais e o afaste das virtudes teologais é criticavel pelo DSI.
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Liberalismo é pecado por quê? Tem gente que fala que os liberais eram a favor da escravidão - ironicamente a igreja nunca proibiu a escravidão.
Bula Sicut Dudum, emitida pelo Papa Eugênio IV em 1435: "2. Algumas dessas pessoas já eram batizadas; outras foram até mesmo, por vezes, enganadas e iludidas pela promessa do Batismo, tendo recebido uma promessa de segurança que não foi cumprida. Privaram os nativos de suas propriedades, ou as utilizaram para seu próprio benefício, e submeteram alguns dos habitantes das referidas ilhas à escravidão perpétua, venderam-nos a outras pessoas e cometeram diversos outros atos ilícitos e malignos contra eles, por causa dos quais muitos dos que permaneceram nas referidas ilhas, e condenando tal escravidão, permaneceram envolvidos em seus erros anteriores, tendo recuado em sua intenção de receber o Batismo, ofendendo assim a majestade de Deus, colocando suas almas em perigo e causando não pouco dano à religião cristã. [...] 4. E não menos ordenamos e comandamos a todos e cada um dos fiéis de cada sexo, dentro do prazo de quinze dias a partir da publicação destas cartas no local onde residem, que restituam à sua liberdade anterior todas e cada uma das pessoas de ambos os sexos que residiram nas referidas Ilhas Canárias e que foram feitas cativas desde o momento da sua captura, e que foram submetidas à escravidão. Essas pessoas serão total e perpetuamente livres e serão libertadas sem exigência ou recebimento de dinheiro. Se isso não for feito após os quinze dias, incorrerão na sentença de excomunhão pelo próprio ato, da qual não poderão ser absolvidas, exceto na hora da morte, nem mesmo pela Santa Sé, nem por qualquer bispo espanhol, nem pelo mencionado Fernando, a menos que primeiro tenham libertado essas pessoas cativas e restituído os seus bens. Desejamos que a mesma sentença de excomunhão seja aplicada a todos aqueles que tentarem capturar, vender ou submeter à escravidão residentes batizados das Ilhas Canárias, ou aqueles que buscam livremente o Batismo, dos quais a excomunhão não pode ser absolvida, exceto conforme declarado acima." Bula Veritas Ipsa, emitida pelo Papa Paulo III em 1537: "[...]os ditos índios e todas as outras pessoas que mais tarde forem descobertas pelos cristãos, não devem de forma alguma ser privados de sua liberdade ou da posse de suas propriedades, mesmo que estejam fora da fé de Jesus Cristo; e que eles podem e devem, livre e legitimamente, desfrutar de sua liberdade e da posse de suas propriedades; nem devem ser de forma alguma escravizados; caso contrário, será nulo e não produzirá efeitos."
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Esses são casos pontuais que até a Bíblia apresenta. Você não pode sujeitar alguém à escravidão senão por contrato de dívida ou guerra. O crime de rapto para vender como escravo era punido com a morte na Torá. Contudo nenhum profeta, sacerdote, rei, apóstolo, presbítero ou papa se levantou contra a escravização de pessoas que seguiam os requisitos já socialmente aceitos em sua época, isso até depois da revolução francesa, quando uma visão antropocêntrica começou a entrar no Cristianismo. E as coisas não mudaram muito, a escravidão moderna não é muito diferente, com o escravo tendo a impressão de ser livre.
É pecado porque o indivíduo não é soberano, assim como também não o são o mercado e a sociedade. O individualismo é uma falha, assim como o coletivismo. A democracia é um erro, assim como a autocracia. Vontade popular é a vontade de Lúcifer disfarçada. O pecado está em retirar a centralidade de Deus e substituí-la por doutrinas, filosofias e práticas que O afasta da vida das pessoas. O liberalismo tem uma forte tendência naturalista e leva ao uso da razão própria e da insubmissão à razão divina. Entenda neste contexto a crítica ao liberalismo da mesma forma com que se critica o cientificismo. Liberdade e ciência são coisas boas e úteis, porém o liberalismo e o cientificismo são suas formas desvirtuadas.
As encíclicas devem ser lidas de acordo com o contexto da sua época. Elas formalizam a visão da Igreja sobre determinado assunto em determinada época, mas não são documentos infalíveis. Podem tornar-se anacrônicos. Por exemplo, a recente encíclica laudato si foi elaborada no auge da histeria do aquecimento global e faz menções a estudos daquele painel do clima que hoje sabemos ser enviesados. Parte dela vai envelhecer mal.
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Interessante e concodo com quase tudo especialmente que o problema está nas distorções que criamos. Mas até a verdadeira submissão só pode ser feita com liberdade e ciência. Quem tem o direito de impor os limites para ambos em nome de Deus? Que imponha para si mesmo como exemplo para o resto. Por mais imperfeito que seja, a liberdade, a ciência e o individualismo precisam existir até para que a adoração seja possível. Eu preciso exisitr como indivíduo e não ser a mera propagação da consciência e pensamentos alheios. Somos a semelhança de Cristo e o ideal é ser como Ele, fala da unidade, contudo semelhança não é sinônimo de falta de identidade própria e unidade não é uniformidade, pois somos seres singulares. Até as Pessoas divinas são singulares e escolhem espontaneamente cooperar entre Si, são livres e oniscientes. Não somos deuses, mas é fato que Jesus morreu para libertar, conceder domínio próprio (auto senhoriagem) e ciência. Isso em momento algum contradiz a submissão a Deus. Adão era o senhor da terra por representatividade divina, mas não era divino e deveria reconhecer a soberania de Deus, se tivesse feito isso, as coisas seriam diferentes. Como administradores fiéis de Deus, podemos, sim, fazer valer a nossa liberdade de administrar os bens de Deus de acordo com nossa consciência e isso é sagrado e deve ser um direito até do descrente que nem crê que Deus é dono de dele e de tudo que tem e é um mero mordomo, porque Deus confiou suas coisas a cada indivíduo devemos respeitar a confiança de Deus. Obviamente estou falando de ganhos honestos e permitidos, o roubo é um crime contra a administração divina, a própria cobiça já é. Resumindo: os conceitos espirituais estão cheios de antíteses: morra para viver, humilhe-se para ser exaltado, poderia acrescentar também submeta-se para dominar, sirva para ser livre, desaprenda para ficar sábio, entre outros é inegável que também a doutrina combina o individualismo e o coletivismo, em alguns momentos Deus fala a nós pessoalmente e, noutros, de forma coletiva.
Excelentes considerações. Vc segue alguma igreja ou tradição religiosa? Vc já assistiu a um filme chamado Silêncio (2016). Ele retrata bem questões como liberdade de consciência, autonomia individual e papel do poder secular. Acho bem acertado seus pontos positivos e seria bacana trocar ideias sobre o filme. Todos os dons que nos foram dados devem ser ordenados para fazer a vontade de Deus. O indivíduo, a liberdade e a ciência tornam-se erráticos e heréticos quando afastam-se de Sua autoridade infalível. Pelo que entendi, a forte tendência ao naturalismo e ao racionalismo exacerbado seriam os pontos principais da crítica à mentalidade liberal.
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Sou adventista. Eu vou assistir esse filme, agradeço a sugestão. Depois falo o que achei. Eu gosto dos ideais de liberdades e até já escrevi uma nota sobre isso que, a liberdade tem dois lados. Pior do que ser exteriormente limitado em sua liberdade é ser interiormente limitado pelo medo, covardia, pecado, fraqueza. Liberdade de verdade é em Cristo. A nota é essa, se quiser ler o ponto que estou me referindo diretamente, leia o sub tópico "Livre expressão x Liberdade sujeitada".
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# A Bíblia e a liberdade de expressão #curiosidades #Bíblia #bíblico #Cristianismo #cristão #liberdade #liberdadedeexpressão #responsabilidade A liberdade de expressão surgiu no contexto religioso para proteger a liberdade de consciência e exercício da fé particular, para que não mais fossem criminalizadas as expressões da religião. Isso, por si, é surpreendente, pois a maioria das religiões ensinam um modo restritivo de se expressar, evitar tudo aquilo que não edifica. Se a doutrina não apóia a liberdade de expressão porque os cristãos a defendem? O que a Bíblia realmente fala sobre isso? ### Palavras que justificam e condenam A Bíblia ensina a ponderação e julgamento de todas as nossas vontades. Ao contrário das filosofias orientais,, que ensinam a reprimir todos as vontades para crescer espiritualmente e o outro extremo da permissividade e hedonismo de fazer tudo o que se deseja, Deus quer que consideremos Sua vontade expressa nas Sagradas Escrituras para discernir a natureza das nossas vontades e tomar a decisão de expressá-las ou não. Nosso relacionamento com Deus acontece também por meio de palavras, por elas cremos, anuimos à Sua Aliança, votamos fidelidade e Ele assim as aceita como se fossem gravadas em pedras. Se tanto poder assim é conferido á elas, tal é a responsabilidade há em expressá-las! Se elas podem invocar o nome de Senhor para ser salvo, elas também podem ser mal utilizadas e desonrar a Deus e confirmar a condenação que já paira naturalmente sobre o homem. Assim como a Palavra de Deus é fiel e Ele mesmo zela por ela, pela Seu cumprimento e credibilidade, também requer fidelidade de nossas palavras, especialmente nos votos religiosas, mas inclui também fidelidade aos nossos contratos uns com os outros. O cumprimento de contratos é importante para o mundo funcionar bem. Se as palavra fossem meros sons, tinta sobre uma superfície ou um aglomerado de bits exibidos em uma tela, sem importar significado e influenciá na vida real, a linguagem seria no mínimo dispensável. Deus apenas revela na Bíblia uma perspectiva séria sobre a importância da comunicação e seu peso na realidade. Se as palavras influenciam na realidade, precisam ser tratadas se forma responsável, pois se podem construir uma realidade positiva, o contrário também é correto. Está escrito que Deus "enviou Sua Palavra e os curou". Se palavras têm valor terapêutico, obviamente tem potencial de adoecimento. A comunicação é mais poderosa do que imaginamos, mesmo se tratando de palavras humanas. A Bíblia ensina o uso consciente das palavras e tem vários preceitos para orientar-nos a usar o dom da fala. Dois dos dez mandamentos fazem referência à fala, o terceiro, *Não tomarás o nome de Jeová, teu Deus, em vão", e o nono, "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo". Tomar o nome de Deus em vão é mais profundo do que apenas falar e o problema da falsidade vai além do que forjar um testemunho num tribunal. Em outros momentos Deus diz que somos chamados por Seu nome e "aquele que invoca o nome de Jeová, que se aparte da iniquidade, pois é vão ser reconhecido como cristão e invocá-lo se as obras negam que O conhecemos. Também a "língua enganosa" é apresentada como uma "seis coisas [que Deus mais] detesta e a ordem "Não mintam uns aos outros, certamente são extensões do nono mandamento. Nela condenação para mentira, detração, fofoca, blasfêmias, amaldiçoar pais e autoridades, brigas (que podem ser verbais), falar de forma dura e até mesmo o usando o tom de gritaria, o que entristece o Espirito de Deus. A figura de linguagem de uma língua como arma de guerra, às vezes comparada a espadas, a flechas, também a fogo, a veneno de serpentes, não só mostra o poder de destruição que a fala tem o potencial de causar, mas porque Deus se propõe a julgar a má aplicação dela. As palavras de um réu confesso são suficientes para sua condenação. Quando o homem expressa-se está mostrando para todos o que está cultivando em seu coração e se é um justificado ou condenado. Os que aceitam a justiça de Cristo e são nela justificados também aceitam ser transformados e cultivar novas e boas coisas para entregar aos outros. "O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más". Tirando coisas ruins de sua boca estás dizendo ao Juiz de todos: sou culpado de maldade, eu realmente tenho tesouros malditos aos quais me apego e não quero deixar". Se todos os avisos e oportunidades forem negligenciadas, a condenação é certa. O homem bom que a Bíblia diz certamente é Jesus, cheio de bons tesouros que Ele nos deu, "sendo rico, fez-se pobre para que por Sua pobreza enriquecêssemos" com os tesouros da bondade. Trata-se de revelar Jesus na vida, o que inclui a conversação, quando "como maçãs de ouro em bandejas se prata [apresentamos] a palavra dita no seu tempo". Ao contrário de um tribunal humano, o divino pode julgar o homem pelas suas palavras porque conhece as intenções do coração e toda a verdade, coisa que, por mais bem intencionados que um promotor, juiz trabalhando com agências de checagem e investigadores não podem conhecer plenamente, por isso Deus não conferiu aos juízes da nação de Israel julgar "fake news e nem condenar pessoas pela fala, exceto em contextos bem específicos, pelo contrário, a nação foi levantada com um templo onde era trabalhado didaticamente o plano da salvação, mostrando qual sempre foi o foco de Deus: salvar pecadores. ### Livre expressão x expressão sujeitada Somente pessoas livres podem expressar-se livremente e o contexto humano atual é de cativeiro. Podemos argumentar o quanto for sobre liberdade, porém ao analisarmos a situação em que estamos enxergamos graves limitações que impedem a expressão livre. A garrafa serve o que tem e a árvore frutifica o que a natureza dela permite. "Não pode a árvore boa dar maus frutos e a árvore má, bons frutos. Isso inclui a maneira de comunicar-se. Nesse momento há muitas pessoas querendo a capacidade de se comunicar melhor, fazendo cursos de aperfeiçoamento, etc. Outros simplesmente não ligam para isso. Independente se você faz parte de um ou outro grupo, você tem limitações no vocabulário que não vão se resolver só em abrir a boca agora, preciso buscar a expansão que não se tem, os cursos ajudam, mas eles não fazem o maravilhoso comunicador, fluente em várias línguas, vencer os problemas morais com sua comunicação, domar a sua língua. Estar sujeito significa não conseguir livrar-se dos seus vícios de linguagem, não controlar o ímpeto de falar o que não convém, de demonstrar emoções de forma pecaminosa, especialmente a ira. Ser livre para expressar-se também é ter sabedoria para falar temas delicados que precisam ser abordados. Muitas vezes, nossa própria mente é o pior censor e impede que falemos o que é preciso por medo, comodismo, um senso equivocado de proteção. É comum perder oportunidades nesse sentido, isso pode ser tão desastroso quanto falar o que não se deve. Podemos nos calar diante de injustiças ou perder a oportunidade de compartilhar o evangelho, por exemplo. O cativeiro é a ignorância, pois sem o conhecimento aliada à experiência espiritual, não há liberdade, mas uma condição mais sujeita, ou cativa, proporcionalmente à sua ignorância. Quando se atinge a sabedoria acha-se liberdade. A pessoa pode até saber como compartilhar coisas más, mas ela terá mais condições para refrear esse ímpeto e compartilhar coisas melhores, mesmo que seja o silêncio. ### A liberdade de exprimir sua fé Mesmo que a Bíblia apresente vários mandamentos sobre a comunicação humana e condene toda desobediência, há algumas nuances a se considerar antes de enxergar a Deus como o maior censor do Universo que patrulha todos as palavras para nos condenar. Em Cristo há liberdade e a cruz mostra o quanto Deus respeita a expressão de fé do ser humano. Não é só o justo que vive pela fé, todos vivem. Quando a Bíblia diz que "há uma só fé", não trata-se de quantidade, mas de qualidade, pois só a fé em Cristo traz a vida plena. Certamente é a fé que move o mundo, todo homem vive pelo que acredita e, por incrível que possa parecer, Deus respeita isso. Prova disso é que a revelação de Sua verdade não é apresentada de forma incontestável, dessa forma ela se imporia sobre tudo o que se possa acreditar, e não há dúvidas de que Deus poderia fazer isso se quisesse. Mas pelo sagrado direito da liberdade, Deus até permite que Sua própria existência possa ser questionada e também que a pessoa possa confiar naquilo que ela queira acreditar, e viver pela sua fé, ainda que alternativa. Por isso que Deus apresenta o mundo profeticamente como a "Grande Babilônia Mística", uma clara referência à Babel e sua torre que causou confusão na humanidade. Todos querem se expressar como acreditam e por isso vivemos nos estranhando e há muita incompreensão. Para todos nós, confusos nesse mundo, Deus tem o chamado: "saia dela (da Babilônia), povo Meu" e tem uma fé pura, unificadora, que traz vida e salvação, capaz de tornar a gerar ordem e entendimento mútuo porque é o mesmo Senhor com capacidade de operar tudo em todos e nenhuma outra fé é similar. Por isso que a cruz é o maior símbolo de liberdade que existe. Ali Deus recebe a punição do abuso que fizemos à nossa própria liberdade, não só a liberdade de expressão falada, e Ele fez isso para deixar claro duas coisas, o Se amor por nós e que a condenação agora não é mais pelo nossos erros, mas pela recusa de aceitar Seu amor. Embora a cruz reforce o ponto que só o amor é que deve dominar as palavras que saem da nossa boca, o que significa, sim, uma aversão enérgica ao mal, não há censura. Enquanto ele vai trabalhando semeando o bem em nós, Ele não arranca de pronto o mal, mas o processo de crescimento da fé nos faz desejar o melhor, como desejar mais a luz do que a escuridão e o processo de pureza da vida e supressão dos mal, inclusive verbalmente, não ocorrerá pela força. O Mestre está ensinando todos nesse momento, de vez em quando sussurrando ou com um megafone, mas Ele está aí, incansável e paciente, conduzindo ao arrependimento e expandindo as limitações naturais para que possamos ser ricos dos bens celestes e partilhar, quer por palavra ou ação. Se rejeitarmos esse convite maravilhoso de liberdade, onde mais a encontraremos?
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Na verdade, além dessas, também tem a Commissum Nobis de Urbano VIII em 1639, a Immensa Pastorum de Bento XIV em 1741, a In Supremo Apostolatus de Gregório XVI em 1839 e a In Plurimis de Leão XIII em 1888. Saindo dos papas, tem a Summa de Tratos y Contratos de Tomás de Mercado (frade dominicano espanhol) em 1571. E figuras que, dentro da própria Igreja, se levantaram contra abusos ou a escravidão em si, como Bartolomeu de Las Casas, São Pedro Claver, Padre Antônio Vieira, Cardeal Charles Lavigerie, Dom José Pereira da Silva Barros e Padre Victor
Vou ler a sua nota. Já salvei aqui. Valeu! Embora a comunidade do nostr seja pequena, é interessante ver como os valores convergem. Existem muitos libertários e um número significativo de cristãos conscientea e preparados para demonstrar as razões da sua fé. Por alto, recordo do @ΜΟΛΩΝ ΛΑΒΕ @Wilhelm II de Magalhães @Rafa Borges @Otavio E tem mais gente que eu já vi ótimas postagens, porém não recordo o npub. Se conhecerem mais alguém que não mencionei, coloquem aí para eu seguir também. Sobre o filme, é a história de dois padres missionários que vão ao Japão buscar o paradeiro de um padre sumido. Porém o enredo do filme é ambíguo. Meu colega entende ser uma história de perdão e redenção. Eu já acredito que seja uma história de derrota, apostasia e racionalização do erro. Seria legal ver outros pontos de vista.
Espero que goste! Depois posta aí a sua visão sobre o enredo. Embora seja uma obra de ficção, a perseguição aos cristãos no Japão foi bem real. Vários tornaram-se mártires e os cristãos foram banidos até o século XIX. Tem a história dos cristãos ocultos que mantiveram sua tradições cristãs escondidas por séculos, porém eles acabaram criando uma religião sincrética misturada com xintoísmo. É bem curioso, pois parte dos remanescentes não quiseram se associar com os missionários católicos e evangélicos que voltaram ao país com o fim do banimento.
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Só quero escrever uma nota breve considerando um ponto bem pertinente. Se eles tivessem ficado na Europa talvez o padre Rodrigues não tivesse negado a fé, mas teria dito não à um chamado claro que ardia em seu peito de partir por amor em resgate daquele do seu irmão de ministério, o que também seria errado. O homem deu um passo de fé tremendo com seu companheiro missionário. Jesus reconhece isso. Ficou nítida a impotência humana em resgatar as pessoas que ama, não só da primeira morte, mas da segunda. Você diz que a obra é ficção, não é baseado em cartas de relatório missionário reais enviadas do Japão à Europa? Mesmo que tivesse sido, as partes depois da captura são pura licença poética, porque parece que não lhe foi permitido corresponder com a Europa. Acho que um católico tende a sofrer mais quando em cárcere do que um protestante, pois aquele depende dos símbolos religiosos enquanto este adora o invisível. Mas certamente seria muita pressão para tanto um quanto o outro poderia apostatar. Em alguns casos, o católico ficar firme e o protestante apostatar. Mas eu só dizia que o protestante já estaria acostumado a ficar sem a presença de algo palpável para validar sua fé e, no cárcere, acho que dificilmente deixavam os símbolos com os prisioneiros. É um filme muito dramático. Em alguns momentos me via no lugar do padre Rodrigues. Amanhã comento mais a respeito.
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Continuando os comentários sobre o filme... O padre Rodrigues usou aquela frase que talvez fosse de historiadores romanos ou escritores patrísticos que diz que o sangue dos mártires é semente, dando a entender que haveria uma maior colheita de vidas para Deus através do martírio de uma pessoa fiel. Mesmo ele sabendo que havia muitos cristãos no Japão, a perseguição ferrenha estava tentando destruir a fé e os fieis, muito se falou sobre o sucesso do Cristianismo na Europa, teria ele esquecido que a Europa também foi hostil ao Cristianismo desde o princípio, começando no Oriente sendo rerprimido pelo Sinédrio judeu, depois por algumas autoridades locais e, depois, pelos imperadores, acho que começando com Nero e por vários outros. Ele até citou os cultos secretos que aconteciam na catacumbas em Roma logo no começo do filme, mas na hora de falar com o líder inquisidor japonês, esqueceu de falar sobre isso, fazendo parecer que a Europa sempre aceitou a fé cristã sem resistência. Ele poderia dizer: mas lá também a fé foi reprimida e Cristo venceu! Aqui vamos vencer também! O inquisidor estudou mesmo o catolicismo e tentou os cristãos e líderes no que consideravam sagrado, os símbolos e figuras. Para um protestante (acho que os holandeses que faziam comércio com o Japão no filme eram protestantes), eles não seriam tentados com imagens, mas eu confesso que, apesar de considerar imagens como sagradas (respeitando muito quem as considera), acho que seria pecado o ato de pisar na imagem de Cristo ou cuspir na cruz, seria atitude de desprezo. Mas no caso dos protestantes, acho que o inquisidor mudaria o método, tentaria obrigar os protestantes a blasfemar como eles queriam que os católicos também fizesssem contra Maria, no filme. O protestante seria obrigado a pecar com as palavras ou cuspir na Bíblia ou queirmá-la. Mas eu digo, mesmo não considerando imagens como sagradas (até entendendo como profanas em alguns casos, o contrário), eu não pisaria nelas. Conheço protestantes que desejariam destruir imagens de Cristo, eu sou indiferente à isso.
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Agora a parte que talvez você esteja esperando mais que eu comente, os padres Rodrigues e Ferreira morreram perdidos ou salvos? Considerando a ficção como realidade eu respondo: Eu não sei. Mas há uma grande probabilidade de que eles tenham se perdido. Jesus disse que quem O negar diante dos homens será negado por quando Ele vier em Sua glória ou qualquer que dele se envergonhar, Jesus também dele Se envergonhará. O efeito de renegar a fé foi terrível para a igreja japonesa, fez muitos se escandalizarem. Embora as pessoas devessem estar olhando somente para Cristo e manter-se firmes mesmo que todos apostarem, a liderança arrasta pelo exemplo a maioria, especialmente os católicos que tem uma dependência maior de líderes ordenados que tem o monopólio das missas e receber as confissões e perdoar os pecados. Nesse ponto, protestantes poderiam ter vantagem de ser mais resiliente, eles continuariam fazendo cultos e orando diretamente a Deus creriam no perdão. Os dois padres apóstatas não negaram a fé apenas uma vez, mas tinham que fazer isso de forma recorrente e ainda trabalhar para impedir o Cristianismo no país, a entrada dos símbolos cristãos e escrever obras contra a doutrina de Deus. Ainda que eles adorassem a Deus secretamente, estavam servindo o diabo publicamente. São como sal insípido e luz embaixo do alqueire. Sabe o que Deus faz com o sal insípido? Eu não conheço bem o catolicismo como você, mas até no filme ficou claro que os padres também se confessam aos outros. O padre Rodrigues chamou o padre Ferreira de seu confessor. Ainda que ele tenha se arrependido no final da vida, ele teria crido no perdão direto de Deus sem intermédio de outro padre? Se ele condicionar totalmente o perdão ao serviço de um padre em favor dele, ele talvez tenha morrido com suas culpas pensando que não haveria um padre que o perdoasse. A chance que ele tenha ido à perdição é alta, mas Deus é misericordioso. Até porque parece que o trauma e a tensão do cárcere e da tortura dos membros da igreja tenha o feito enfermar e começar a ter surto psicótico. A ouvir a imagem falar com ele coisas que eu creio que Jesus jamais falaria. Deus compreende nossas doenças e fraquezas também. Por isso só Deus pode julgar, pois conhece o coração.
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Aprova notas 3 months ago
Certo. Em certos momentos eu até pensei que não seria conveniente comentar um filme abertamente, por causa dos spoilers também, poderia ter usado as mensagens diretas privadas. Desculpe, o protocolo te marca por padrão porque você criou a nota do tópico, mas vou tentar lembrar de sempre te desmarcar em qualquer tópico e resposta, salvo, obviamente, quando a resposta for direcionada a ti. Pode voltar a me lembrar se eu acabar esquecendo. Vou tentar não incomodar porque não quero que o irmão me bloqueie, quero manter o caminho do diálogo aberto.
"Ficou nítida a impotência humana em resgatar as pessoas que ama, não só da primeira morte, mas da segunda." Boa sacada. Não havia me ligado nisso conscientemente. Durante o filme inteiro o padre é impotente e fracassa em quase tudo. Por mais bem intencionado e desejoso em acabar com o sofrimento dos fiéis, só trilhou o caminho da derrota. Essa derrota me pegou pessoalmente porque me faz lembrar que durante um ano eu namorei uma moça feminista, ateia e abortista (ela parecia uma moça normal, sem sinal óbvio dessas características) Óbvio que não deu certo o relacionamento e ela acabou pegando raiva de mim porque eu tentava convertê-la. A condição dela para continuar comigo era que eu parasse de "proselitismo". Um dilema, em muitíssimo menor grau, que remete ao filme. O filme foi baseado num romance de um escritor japonês. Não conheço a origem do livro e também não fui atrás do "making of" do filme, mas, pelo que vi na época, os personagens da obra não são históricos. Provavelmente os produtores do filme devem ter tido assessoria de historiador na produção. Realmente parece a dramatização de uma história real. Outro ponto que eu também não pensei. Talvez um missionário cristão reformado pudesse passar por menos sofrimento. Os ícones e os sacramentos da eucaristia e confissão são caros para os católicos. Já para os reformados, outros aspectos da fé que não são tangíveis têm mais importância.
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Aprova notas 3 months ago
Ah agora o rapaz não está mais marcado. Enfim, a ficção é interessante também, ficção baseada em eventos históricos. Até os filmes biográficos tem ficção misturada também. Sinto muito pelo relacionamento frustrado, seria bom se você tivesse êxito em levá-la a Jesus, mas que bom que ela não te levou para longe dEle. As estatísticas envolvendo "namoros missionários" com intenção de converter o namorado (a) dá errado. O que conhecemos popularmente como jugo desigual. Mas muitos reformados também poderiam regenar a fé pelo medo. Na real, só não apostata quem ama e permanece no amor de Jesus. Como diria um pensador cristão, quem serve a Deus por interesse servirá qualquer um por uma recompensa (imediata) maior, porque a longo prazo ninguém pode oferecer o que Deus oferece para nós. Deve ser muito difícil se colocar no lugar daqueles cristãos, mas considerando que estavam perdidos e sem esperança, a fé lhes deu um motivo para o que viver e morrer. Eu tremo de pensar nisso, mas Deus permite que as coisas piorem para desejarmos nossa pátria celeste e não apegar aqui. Os japoneses do século XVII almejavam mais o Reino que eu e você, provavelmente. Nós vivemos em relativa paz e liberdade religiosa e magoamos fácil com Deus por qualquer coisinha. E nossa tendência é a de desejar o reino do príncipe desse mundo, onde vivemos temporariamente como peregrinos, fique cômodo e gostoso para nós vivemos para sempre. Minha mãe vive me dizendo isso quando comento os absurdos que estão fazendo com o Brasil, mas ela me lembra que o Brasil é terra estrangeira e que a Nova Jerusalém, minha pátria verdadeira, não está sujeita a nenhuma corrupção como aqui. Então vir os tempos difíceis nos fortelece, mas somente se ficarmos firmes em Cristo.
É isso mesmo. É dito que "o sangue dos mártires é sementeira de cristãos". Quem presencia um martírio nota que existem coisas mais valiosas que a própria vida do mártir que a entrega voluntariamente. E acredito que por choque ou curiosidade, a atitude do mártir impregna a mente da pessoa que assistiu ou conheceu o martírio. É a forma mais cara de testemunho que existe. Esta é a história da minha conversão. Pensava que as histórias de vida de santos e mártires antigos eram lendas e histórias exageradas, até conhecer histórias recentes como a da Santa Edith Stein, de origem judia, que faleceu em um campo de concentração. Voltando para o filme, a atitude reiterada de Rodrigues de constantemente profanar ícones e trabalhar para o inimigo para mim é traição a Nosso Senhor e avilta o sangue derramado dos mártires. Pontualmente, pisar ou cuspir publicamente num ícone para livrar o sofrimento de alguém, pode ser pessoalmente perdoável diante de uma coerção irresistível. O problema é o escândalo que este ato traz para a fé dos demais fiéis. O inquisidor é sábio e retira do Rodrigues tudo aquilo que o identifica como católico: os ícones e os sacramentos, principalmente a eucaristia e a penitência (confissão). Sem estes elementos, ele ainda seria cristão, se mantivesse suas virtudes que são constantemente abaladas pela reiteração das profanações. Mas ele se torna um apóstata, como ele mesmo declara na cena da confissão do seu amigo.
Considerando a obra como se fosse realidade, realmente não tem como saber se os padres foram salvos ao não. Como vc disse, provavelmente tenham se perdido, acreditaria que por pecarem contra o espírito santo. Naquela cena em que o amigo japonês pede para ouvir a confissão, o Rodrigues até se espanta e diz que ele não é mais um sacerdote. Internalizar a condição de pecador e recusar a misericórdia é o caminho direto para o pecado contra o espírito santo. Porém a cena final quebra esta tese, então o espectador fica sem uma conclusão, ainda mais depois de uma vida apóstata dos personagens; Enxergo da mesma forma que vc. Não tem como servir a dois senhores ao mesmo tempo. Por mais que tivessem fé oculta e adoração sincera, a vida apóstata é gravíssima. Por isso entendo que o martírio nunca é opcional. É a única via. Bem notado! Os padres também possuem confessores, inclusive o papa. A confissão só é válida mediante o arrependimento sincero e eficaz. A pessoa que fizer um exame de consciência profundo e buscar uma contrição perfeita, ou seja, repudiar o pecado praticado e ter um firme propósito de não pecar mais, pode ter seus pecados perdoados, se não tiver a possibilidade de confessar. Acredito que a falha principal dos personagens está em tornarem-se instrumentos para o mal e, principalmente, por pecarem contra o espírito santo a ponto do Rodrigues esquecer do seu sacerdócio. As partes em que o Rodrigues ouve Jesus são curiosas. A cena é carregada de sofrimento. Note que logo após ele pisar na imagem, a cena é cortada e é mostrada uma pintura medieval de Jesus se apagando na escuridão e logo em seguida volta a cena dele caindo no chão. Entendo como remeter à queda e desgraça que recaiu sobre o padre. E na cena da confissão, no momento em que o amigo o lembra que ele é o último padre do Japão, mais uma vez Jesus o consola e eu tendo a perceber como algo proveniente da mente dele racionalizando toda uma vida apóstata. Muito interessante ler suas considerações. Estão bem alinhadas com a interpretação que fiz. Valeu por compartilhar!
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Hum... Eu não conheço a história de Santa Edith, é uma das histórias menos conhecidas. Devem ter tantas histórias de fé naquela ocasião que são impopulares, mas Deus não esquece. Também acho que aquele trabalho deles era traição. Cada um escolhe seu caminho.
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Aprova notas 3 months ago
Foi bom ver tuas considerações também. Tem pontos que também não pensei. O diálogo enriquece. Eu não sabia, mas deveria intuir que uma pessoa que não tem como se confessar a um padre tivesse a possibilidade de ser perdoada por Deus diretamente, obviamente sem anular o método normal de perda o do catolicismo pela confissão ao padre. Isso é bom para que pessoas em casos excepcionais possam ter esperança. A nossa noção sobre o pecado contra o Espírito Santo é bem parecida também. E sobre o martírio pela fé, alguns realmente precisarão seguir o exemplo literal de Jesus e dos mártires do passado, pela justiça e a verdade. Agir diferente da natureza espíritual é deixar de ser cristão, simplesmente.
Ah, ele estava zoando. Converso com ele com frequência 😂 No computador eu uso o Nostter e ele não permite tirar menções da conversa. Ele só mostra bem discretamente que tem outros perfis mencionados. Tive que usar o Jumble e virei jumblista, pelo menos no computador. Durante certo tempo eu me revoltei por gostar muito daquela moça e não não poder tê-la em minha vida da forma que eu desejava. Aquilo estava fazendo mal para mim ao ponto de sentir uma revolta inconsciente tornar-se consciente. Cheguei a pensar em colocar mais para baixo nas prioridades a vida religiosa. Um homem apaixonado na vale nada. Paixão vem de "pathos": sofrimento, afetação, doença. Será que patético também vem de "pathos"? Fui um doente patético. Da mesma forma essas questões políticas também me faziam mal e criavam em mim uma revolta contra a realidade. E este é um passo importante para a revolta contra Deus. Devemos modificar a realidade naquilo que é possível. No que não for, só resta aceitar, sem revolta. Ponto bem colocado: qualquer coisinha nos afeta, ficamos magoadinhos e frustrados por qualquer vicissitude na vida. Tem aquele provérbio na língua inglesa "man plans, God laughs". Não que Deus seja sádico, mas é que a vontade que tem de ser feita não é a sua, apesar de todos seus planos e caprichos. No filme, cena emblemática deste ponto, os camponeses assistindo ao martírio de familiares e amigos com consternação e muita dor, mas sem revolta. Esta é a mensagem mais importante para mim.
A biografia dela dá um livro. Estudar a história de vida dela e da Santa Josefina Bakhita, uma ex-escrava africana que viveu até meados do Séc. XX ajudou-me a perceber que dentro e fora da Igreja existem pessoas mais sábias, mais fiéis e mais caridosas que tiveram vidas consideradas horríveis, porém nunca se revoltaram contra a realidade. Bakhita chegou a dizer que, se pudesse, beijaria os pés de cada um dos seus antigos senhores, pois graças a eles ela foi vendida, chegou a Europa e conheceu a fé em Nosso Senhor. Recentemente no X/Twitter, conheci um rapaz chamado Paulo Ramos que ficou cego, surdo e cadeirante durante a adolescência. Ele é programador e um cara sensacional. As vezes eu me comovo com as postagens dele. A única forma de comunicação dele com o mundo exterior é por meio do tato e com o auxílio de um teclado tátil em braile. Ele diz que a vida dele é como viver em uma caixa escura e silenciosa, mas ele não perde a vontade de viver e sempre fala de Deus, de coisas positivas, faz piadas e gosta de conversar com seus amigos no twitter.