Continuando os comentários sobre o filme...
O padre Rodrigues usou aquela frase que talvez fosse de historiadores romanos ou escritores patrísticos que diz que o sangue dos mártires é semente, dando a entender que haveria uma maior colheita de vidas para Deus através do martírio de uma pessoa fiel.
Mesmo ele sabendo que havia muitos cristãos no Japão, a perseguição ferrenha estava tentando destruir a fé e os fieis, muito se falou sobre o sucesso do Cristianismo na Europa, teria ele esquecido que a Europa também foi hostil ao Cristianismo desde o princípio, começando no Oriente sendo rerprimido pelo Sinédrio judeu, depois por algumas autoridades locais e, depois, pelos imperadores, acho que começando com Nero e por vários outros. Ele até citou os cultos secretos que aconteciam na catacumbas em Roma logo no começo do filme, mas na hora de falar com o líder inquisidor japonês, esqueceu de falar sobre isso, fazendo parecer que a Europa sempre aceitou a fé cristã sem resistência. Ele poderia dizer: mas lá também a fé foi reprimida e Cristo venceu! Aqui vamos vencer também!
O inquisidor estudou mesmo o catolicismo e tentou os cristãos e líderes no que consideravam sagrado, os símbolos e figuras. Para um protestante (acho que os holandeses que faziam comércio com o Japão no filme eram protestantes), eles não seriam tentados com imagens, mas eu confesso que, apesar de considerar imagens como sagradas (respeitando muito quem as considera), acho que seria pecado o ato de pisar na imagem de Cristo ou cuspir na cruz, seria atitude de desprezo. Mas no caso dos protestantes, acho que o inquisidor mudaria o método, tentaria obrigar os protestantes a blasfemar como eles queriam que os católicos também fizesssem contra Maria, no filme. O protestante seria obrigado a pecar com as palavras ou cuspir na Bíblia ou queirmá-la. Mas eu digo, mesmo não considerando imagens como sagradas (até entendendo como profanas em alguns casos, o contrário), eu não pisaria nelas. Conheço protestantes que desejariam destruir imagens de Cristo, eu sou indiferente à isso.
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Agora a parte que talvez você esteja esperando mais que eu comente, os padres Rodrigues e Ferreira morreram perdidos ou salvos? Considerando a ficção como realidade eu respondo: Eu não sei. Mas há uma grande probabilidade de que eles tenham se perdido.
Jesus disse que quem O negar diante dos homens será negado por quando Ele vier em Sua glória ou qualquer que dele se envergonhar, Jesus também dele Se envergonhará. O efeito de renegar a fé foi terrível para a igreja japonesa, fez muitos se escandalizarem. Embora as pessoas devessem estar olhando somente para Cristo e manter-se firmes mesmo que todos apostarem, a liderança arrasta pelo exemplo a maioria, especialmente os católicos que tem uma dependência maior de líderes ordenados que tem o monopólio das missas e receber as confissões e perdoar os pecados. Nesse ponto, protestantes poderiam ter vantagem de ser mais resiliente, eles continuariam fazendo cultos e orando diretamente a Deus creriam no perdão.
Os dois padres apóstatas não negaram a fé apenas uma vez, mas tinham que fazer isso de forma recorrente e ainda trabalhar para impedir o Cristianismo no país, a entrada dos símbolos cristãos e escrever obras contra a doutrina de Deus. Ainda que eles adorassem a Deus secretamente, estavam servindo o diabo publicamente. São como sal insípido e luz embaixo do alqueire. Sabe o que Deus faz com o sal insípido?
Eu não conheço bem o catolicismo como você, mas até no filme ficou claro que os padres também se confessam aos outros. O padre Rodrigues chamou o padre Ferreira de seu confessor. Ainda que ele tenha se arrependido no final da vida, ele teria crido no perdão direto de Deus sem intermédio de outro padre? Se ele condicionar totalmente o perdão ao serviço de um padre em favor dele, ele talvez tenha morrido com suas culpas pensando que não haveria um padre que o perdoasse. A chance que ele tenha ido à perdição é alta, mas Deus é misericordioso.
Até porque parece que o trauma e a tensão do cárcere e da tortura dos membros da igreja tenha o feito enfermar e começar a ter surto psicótico. A ouvir a imagem falar com ele coisas que eu creio que Jesus jamais falaria. Deus compreende nossas doenças e fraquezas também. Por isso só Deus pode julgar, pois conhece o coração.
É isso mesmo. É dito que "o sangue dos mártires é sementeira de cristãos". Quem presencia um martírio nota que existem coisas mais valiosas que a própria vida do mártir que a entrega voluntariamente. E acredito que por choque ou curiosidade, a atitude do mártir impregna a mente da pessoa que assistiu ou conheceu o martírio. É a forma mais cara de testemunho que existe.
Esta é a história da minha conversão. Pensava que as histórias de vida de santos e mártires antigos eram lendas e histórias exageradas, até conhecer histórias recentes como a da Santa Edith Stein, de origem judia, que faleceu em um campo de concentração.
Voltando para o filme, a atitude reiterada de Rodrigues de constantemente profanar ícones e trabalhar para o inimigo para mim é traição a Nosso Senhor e avilta o sangue derramado dos mártires. Pontualmente, pisar ou cuspir publicamente num ícone para livrar o sofrimento de alguém, pode ser pessoalmente perdoável diante de uma coerção irresistível. O problema é o escândalo que este ato traz para a fé dos demais fiéis.
O inquisidor é sábio e retira do Rodrigues tudo aquilo que o identifica como católico: os ícones e os sacramentos, principalmente a eucaristia e a penitência (confissão). Sem estes elementos, ele ainda seria cristão, se mantivesse suas virtudes que são constantemente abaladas pela reiteração das profanações.
Mas ele se torna um apóstata, como ele mesmo declara na cena da confissão do seu amigo.
Hum... Eu não conheço a história de Santa Edith, é uma das histórias menos conhecidas. Devem ter tantas histórias de fé naquela ocasião que são impopulares, mas Deus não esquece.
Também acho que aquele trabalho deles era traição.
Cada um escolhe seu caminho.