Comparar gerações sem considerar as condições socioeconômicas em que cada uma se insere é um erro grotesco. Os indivíduos agem com base nas informações e incentivos disponíveis no seu tempo e contexto, e os meios e oportunidades que uma geração dispõe para alcançar determinados objetivos econômicos nem sempre são os mesmos que uma geração anterior teve. Mesmo dentro do mesmo país, em um intervalo de 10 20 ou 30 anos, mudanças estruturais podem alterar profundamente os caminhos possíveis. Por exemplo, o fim do lastro em ouro no início dos anos 1970 transformou a política monetária global, aumentando a inflação e mudando o valor real das economias ao longo do tempo. Mudanças no mercado de crédito, na regulamentação de imóveis ou nas políticas de financiamento estudantil também alteram profundamente o acesso à habitação, educação e investimento. Um pai que conseguiu comprar casa própria ou financiar estudos na década de 1980 pode ter se beneficiado de condições de mercado, salários relativos e instituições específicas que não existem mais, tornando seu caminho incomparável ao do filho, mesmo que ambos trabalhem duro. Resultados distintos entre gerações não refletem necessariamente maior ou menor esforço, mas sim diferentes contextos e incentivos. Por isso, qualquer avaliação sobre mobilidade econômica ou oportunidades deve considerar não apenas o esforço individual, mas também a estrutura institucional e o quadro de incentivos vigente, que moldam, de forma decisiva, os caminhos disponíveis para cada pessoa.

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Winston 3 months ago
Sim, tb tem diferenças culturais de épocas distintas e diversos outros fatores. Sempre tem que se ponderar o nível de anacronismo.
Tenho o famoso "tio dos terrenos" em uma cidade média do interior. Nos anos 1980 comprou terrenos de 12m*30m e 10m*25m por preço de moto e videocassete. Hoje cada um custa uma pequena fortuna. Boomer é um conceito que não se aplica bem ao Brasil, mas é surreal como as pessoas dessa geração pegaram uma época boa até num país maldito como o Brasil.
Verdade. Nos anos 1980 muita gente mais humilde nem tinha conta bancária. Muito trabalhador recebia o pagto em dinheiro. Com o plano real as pessoas mais simples começaram a guardar alguma sobra e fazer poupança. Quando o real ainda valia alguma coisa, o pessoal comprou terreno, carro e casa. Lembro de familiares que fizeram leasing que era atrelado à cotação do dólar. Em 1999 a paridade artificial dólar/real começou a acabar e as parcelas ficaram caríssimas. Mas quem fez antes se deu bem.
Reforçando esse argumento que a inflação massiva leva uma sociedada ter comportamento mais de alta preferência temporal do que de baixa preferência; e baixa preferência temporal tende a causar degeneração econômica e social